2020-09-22 21:30:00 Jornal de Madeira

Padre Frederico: “Se eu não fosse padre teria sido considerado inocente, absolvido”

A RTP acabou de transmitir, há instantes, o último de dois capítulos dedicados ao padre brasileiro que, em 1992, foi acusado de matar um adolescente de 15 anos, no Caniçal. Os dois episódios inauguraram a nova série documental “Depois do Crime”, com a assinatura da jornalista Rita Marrafa de Carvalho. Vinte e dois anos após a fuga para o Brasil, o sacerdote acedeu falar à RTP. Na entrevista concedida ao canal público, Frederico Cunha foi perentório. Na sua visão, os rumores que, à época, corriam acerca da sua suposta ‘homossexualidade’, chegando, inclusive, à barra do tribunal com o juiz Sílvio Sousa a dar a sessão quase por interrompida quando Frederico Cunha recusou-se a responder à questão centrada nesse teor, ditaram o ‘extremar’ de posições. “Se fosse homossexual então era culpado”, considerou. Para o ex sacerdote da Paróquia de São Jorge, não fosse a sua condição de membro da igreja “jamais” teria sido julgado. E foi ainda mais longe dando a entender que a sentença se baseou em ideias pré-concebidas. “Já cheguei no primeiro dia do julgamento condenado”, denunciando a “parcialidade” que pautou todo o julgamento. Com recurso a imagens documentais relativas à época dos factos, os dois episódios contaram com declarações inéditas do padre, assim como de alguns protagonistas do caso. Romeu Francês, advogado do pároco ou mesmo Emanuel Pitta da Silva, médico legista, anuíram participar na reportagem. Este último arriscou proferir que Frederico Cunha foi “a pessoa mais fria” que conhecera. Romeu Francês realçou que este processo foi marcante na sua carreira, tal como os “erros marcantes na investigação e julgamento” que afirma terem existido. A segunda parte baseou-se substancialmente nos indícios que foram investigados pela PJ, assim como na vida do padre no Rio e na entrevista que concedeu a partir de casa. Quanto às alegadas ajudas na fuga, o sacerdote garantiu: “Fui sempre ajudado pelas autoridades consulares brasileiras”.  O bispo emérito da Diocese do Funchal, D. Teodoro Faria mereceu a menção de Frederico Cunha, pelo apoio que sempre manifestou. A mãe de Luís Miguel, Gorete Correia, morreu em 2018. O Pai, que encontrou o cadáver do filho no fundo da ravina, está emigrado em Inglaterra. O padrasto deixou a ilha. Miguel Noite, o afilhado do padre, vive em França. Já o Padre Frederico vive em Copacabana, no Rio de Janeiro. Pessoas cujas vidas ficaram, direta ou indiretamente, rubricadas pela morte do jovem, natural do norte da ilha. Foram, no total, pouco mais de 40 minutos – um lamiré – acerca de um crime que já prescreveu. “Não tenho vontade nenhuma de regressar a Portugal”, concluiu Frederico Cunha.

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