Ucrânia: "Não precisamos desta guerra de cereais e a Polónia também não"
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, disse hoje que a Ucrânia está determinada em resolver a crise relacionada com a exportação de cereais e que nem Kiev nem Varsóvia precisam de uma disputa sobre este assunto. "A história, o futuro e a segurança simplesmente não nos deixam outra escolha senão sair desta crise. Não criámos esta crise e estamos absolutamente empenhados em acabar com ela”, afirmou Kuleba, em entrevista hoje divulgada pela agência Interfax-Ucrânia. Segundo o chefe da diplomacia de Kiev, “as emoções estão em alta”, devido às eleições legislativas na Polónia em 15 de outubro, nas quais o partido no governo joga o futuro no poder, e “a temperatura pode ainda aumentar”. “Estamos a trabalhar com a Comissão Europeia. Transmitimos sinais claros à Polónia sobre o nosso compromisso com uma solução construtiva para esta situação. Não precisamos desta guerra de cereais e a Polónia também não", declarou. As relações entre Kiev e Varsóvia, um dos principais aliados da Ucrânia, atravessam um momento tenso depois da decisão do Governo polaco de prorrogar as restrições à importação de produtos agrícolas ucranianos com o argumento de proteger os interesses dos agricultores polacos. Na semana passada, a Ucrânia apresentou queixa contra a Polónia, a Hungria e a Eslováquia, países com idêntica decisão, na Organização Mundial do Comércio. Numa intervenção na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou os países que pretendem ser solidários, mas que na realidade favorecem com as suas ações o Kremlin, declarações que causaram indignação em Varsóvia. O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, anunciou depois que o país deixaria de fornecer novas armas à Ucrânia, limitando-se a fazer as entregas acordadas previamente e passando a concentrar-se na modernização das suas próprias forças armadas. Após estes episódios, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, usando o exemplo das relações com a Bulgária e a Roménia, destacou que Kiev demonstrou que “não existem problemas insolúveis”. "Deixem-me lembrar-vos que no início da crise, na primavera deste ano, cinco países introduziram restrições. Agora, a Bulgária e a Roménia encontraram uma solução, mas os outros três países não. A razão pela qual não foram encontrada, obviamente, não é porque não há soluções. Existem outras razões pelas quais essas soluções não foram encontradas", comentou, acrescentando que, tudo depende da vontade política e que Kiev tem esse desejo. No entanto, reconheceu que narrativas falsas sobre a ingratidão ucraniana para com a Polónia podem representar riscos de segurança a longo prazo, ao semearem a desconfiança pública. Kuleba sublinhou que a Ucrânia continua profundamente grata pela solidariedade e ajuda da Polónia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022. Na mesma entrevista, pediu mais armas ocidentais, como os mísseis norte-americanos ATACMS, para destruir as capacidades de produção russas, e sanções mais rigorosas contra Moscovo, incluindo o seu setor nuclear, e ainda a concessão de ativos estatais russos congelados à Ucrânia. Dmytro Kuleba expressou confiança de que os Estados Unidos acabarão por fornecer mísseis ATACMS de longo alcance, chamando-o de “questão de tempo”, tal como aconteceu com sistemas de armas avançados anteriores, como o HIMARS, que Washington inicialmente hesitou em entregar. O fornecimento de armamento ocidental, considerou, é urgente para impedir a produção contínua de novos mísseis e ‘drones’ pela Rússia que atingem cidades ucranianas. Salientou ainda que é mais barato para o Ocidente ajudar a destruir as fábricas de armas russas do que ajudar continuamente a reconstruir as infraestruturas civis da Ucrânia. O chefe da diplomacia ucraniana disse que e as autoridades norte-americanas não criticaram o ritmo da recente contraofensiva da Ucrânia para recuperar território ocupado por russas durante a visita de alto nível do Presidente Zelensky aos Estados Unidos na semana passada e que, pelo contrário, reconheceram que se realizou “um milagre”, dadas as limitações de tentar superar as fortes linhas defensivas do inimigo. “Os militares americanos avaliam a eficácia da contraofensiva não com base em comentários nas redes sociais e nos jornais, mas sim na realidade do campo de batalha. Eles compreendem que o que as Forças de Defesa Ucranianas alcançaram tanto no sul como no leste é um verdadeiro milagre militar, considerando todas as circunstâncias, tais como os campos minados e o domínio aéreo da Rússia, comentou.