2021-08-04 17:01:00 Jornal de Madeira

Beirute/Explosões: Libaneses marcam aniversário de incidente e protestam contra impunidade

Com dor e raiva, os libaneses começaram a chegar hoje ao centro de Beirute para marcar o primeiro aniversário da explosão devastadora e mortal no porto, e protestar contra a impunidade da classe política nesta tragédia. Ao discursar na abertura de uma conferência de ajuda internacional aos libaneses, o Presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a acusar os líderes libaneses de bloquear a formação de um novo Governo e a investigação do incidente, tendo prometido 100 milhões de euros de ajuda direta à população. No final da conferência, Mácron anunciou que a angariação do valor-alvo do evento – 300 milhões de euros - foi reunido e será canalizado para a ajuda humanitária necessária ao país. A conferência virtual de quarta-feira, co-organizada pela França e as Nações Unidas, teve como objetivo mostrar o apoio ao povo libanês, disse o Presidente francês. Em 04 de agosto de 2020, pouco depois das 18:00 locais (16:00 em Lisboa), centenas de toneladas de nitrato de amónio armazenadas durante anos num armazém degradado e “sem medidas de precaução” explodiram na capital libanesa. A explosão causou 214 mortes, mais de 6.500 feridos e bairros inteiros destruídos, aprofundando as dificuldades de um país a viver a pior crise socioeconómica da sua história e liderado por uma classe política acusada de corrupção e inércia. Para exigir justiça, as famílias das vítimas e ativistas organizam hoje manifestações, vigílias à luz de velas e cerimónias religiosas em frente ao porto ou perto do Parlamento. De bandeira nacional em punho, alguns libaneses juntaram-se em pequenos grupos em direção ao centro de Beirute ou para perto do porto, com o exército e a polícia a multiplicarem barreiras para fechar as principais avenidas da zona ao tráfego, segundo um correspondente da agência de notícias France-Presse. No quartel de bombeiros do bairro de Karantina, próximo do porto, estavam sentados familiares das vítimas, algumas mulheres vestidas de preto, segurando retratos de parentes mortos. Na segunda-feira, as famílias das vítimas ameaçaram “partir os ossos” a qualquer pessoa que se opusesse à sua raiva nas ruas. Entre essas vítimas encontram-se bombeiros, funcionários do porto, automobilistas ou residentes com casas na zona, quando as janelas estilhaçaram e os móveis voaram. Apesar da dimensão da tragédia que abalou o mundo inteiro, a investigação local não apresentou resultados concretos e nenhum culpado foi julgado, apesar de alguns ex-ministros estarem ainda na mira da justiça. Os líderes libaneses são acusados de fazerem tudo para sabotar a investigação e evitar as acusações, argumentando uma alegada imunidade. Mesmo que, um ano depois, algumas feridas tenham cicatrizado, os bairros tenham sido reconstruídos, graças a organizações não-governamentais e voluntários – o Estado pouco ou nada fez –, a nação continua traumatizada. Uma em cada três famílias tem filhos que apresentam sinais de “‘stress’ psicológico”, segundo a Unicef, e o caso piora entre os adultos já que afeta um em cada dois. Após um ano, a investigação não determinou oficialmente as causas da explosão, que aconteceu após um incêndio num hangar, que segundo as fontes de segurança foi provocado por trabalhos de soldadura. Segundo a Amnistia Internacional, as autoridades “atrapalharam descaradamente a procura pela verdade”. O país espera ainda por um Governo que deve dar início às reformas exigidas pela comunidade internacional em troca da tão necessária ajuda, após a renúncia do então primeiro-ministro Hassan Diab, poucos dias após a explosão. Praticamente inalterada desde a guerra civil (1975-1990), a classe política é acusada de negligência, corrupção e de estar desligada da realidade. Enquanto isso, o país afunda: agravamento da pobreza, queda livre da moeda local, restrições bancárias sem precedentes, hiperinflação, combustível e medicamentos esgotados e até ter eletricidade se tornou um luxo. Como se a situação não fosse suficiente, o Líbano disparou foguetes contra Israel, dois países vizinhos tecnicamente em guerra, resultando em represálias em território libanês, mas sem vítimas.

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