2023-05-31 18:41:00 Jornal de Madeira

Sudão: Pelo menos 60 crianças morreram num orfanato por falta de comida e febre

Pelo menos 60 bebés e crianças morreram durante as últimas seis semanas, isoladas e em condições difíceis, num orfanato na capital do Sudão, enquanto os combates continuavam no exterior. A maioria morreu por falta de comida e de febre. Vinte e seis morreram em dois dias, durante o fim de semana. A dimensão do sofrimento das crianças foi revelada através de entrevistas com mais de 12 médicos, voluntários, funcionários do setor da saúde e trabalhadores do orfanato Al-Mayqoma. A agência de notícias britânica Associated Press também analisou dezenas de documentos, imagens e vídeos que mostram a deterioração das condições nas instalações. Um vídeo gravado por trabalhadores do orfanato mostra corpos de crianças enrolados em lençóis brancos à espera de serem enterrados. Noutras imagens vê-se crianças, usando apenas fraldas, sentadas no chão de uma sala, muitas delas a chorar, enquanto uma mulher carrega dois jarros de metal com água. Outra mulher está sentada no chão, de costas para a câmara, balançando-se para a frente e para trás, aparentemente embalando uma criança. Uma funcionária do orfanato explicou mais tarde que as crianças foram transferidas para a sala grande depois de um bombardeamento nas proximidades ter afetado a outra parte das instalações, com artilharia pesada, na semana passada. "É uma situação catastrófica", disse Afkar Omar Moustafa, um voluntário do orfanato, numa entrevista telefónica. "Isto era algo que esperávamos desde o primeiro dia [dos combates]", referiu. De acordo com as certidões de óbito, entre os mortos encontram-se bebés com apenas 03 meses. Esta situação gerou alarme e indignação nas redes sociais, e uma instituição de caridade local conseguiu entregar alimentos, medicamentos e leite em pó para bebés ao orfanato no domingo, com a ajuda da agência das Nações Unidas para a infância, a Unicef, e do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Os trabalhadores do orfanato alertaram para o facto de poderem morrer mais crianças e apelaram à sua rápida retirada para fora de Cartum, a capital do Sudão, devastada pela guerra. A batalha pelo controlo do Sudão eclodiu a 15 de abril, colocando os militares sudaneses, liderados pelo general Abdel Fattah al-Burhan, contra as Forças de Apoio Rápido, paramilitares comandados pelo general Mohammed Hamdan Dagalo. Os combates transformaram Cartum e outras zonas urbanas em campos de batalha. Muitas casas e infraestruturas civis foram saqueadas ou danificadas por projéteis e balas perdidas. Os combates infligiram um pesado tributo aos civis, em especial às crianças. Mais de 860 civis, incluindo pelo menos 190 crianças, foram mortos e milhares de outros ficaram feridos desde 15 de abril, segundo o Sindicato dos Médicos do Sudão, que regista as baixas civis. É provável que o número de vítimas seja muito superior. Mais de 1,65 milhões de pessoas fugiram para zonas mais seguras no interior do Sudão ou atravessaram as suas fronteiras para os países vizinhos. Outras permanecem encurraladas nas suas casas, incapazes de escapar, à medida que as reservas de alimentos e de água diminuem. Os confrontos também perturbaram o trabalho dos grupos humanitários. Mais de 13,6 milhões de crianças necessitam urgentemente de assistência humanitária no Sudão.

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