2021-05-09 05:00:00 Jornal de Madeira

Poupanças 
dos portugueses cresceram no último ano

Parece mentira. Mas não é. Os que não viram 
cortes nos ordenados pouparam mais por causa 
do recolher obrigatório, dos confinamentos, 
do impedimento de viajarem. A pandemia 
fez alguns encherem mais o mealheiro. ‘Cativeiro’ Nem tudo o que a pandemia nos trouxe é mau. Os dados estatísticos apontam para um aumento da taxa de poupança das famílias portuguesas. Ao JM, o economista Élvio Encarnação diz-nos que esse fenómeno pode ser explicado com a diminuição do consumo das famílias (mais horas em casa). “Todos nós temos a consciência de que, quem não perdeu rendimento, o confinamento traduziu-se numa melhoria das finanças pessoais”, assegura o economista. Face ao vasto leque de restrições impostas, como sejam no horário de funcionamento de bares, restaurantes, supermercados e todo o comércio, o teletrabalho e o recolher obrigatório, os portugueses deixaram de fazer determinadas despesas que, antes, eram consideradas habituais, tais como jantar fora, ir ao cinema e viajar. “Penso que este fenómeno é passageiro e que com o desconfinamento, a situação voltará ao normal com alguma rapidez.  Quem não tem saudades de ir jantar fora na sexta feira?”, questiona o economista. Élvio Encarnação adianta ainda que até aquelas famílias que viram uma diminuição no seu rendimento familiar, tiveram que fazer ajustamentos aos seus hábitos de consumo, adaptando o seu rendimento à nova realidade. E até estes, pelo menos alguns, conseguiram poupar mais um pouco. Ainda assim, “muitas têm perdido o seu emprego, o que também provoca uma redução drástica nos respetivos consumos”, conforme realça, apontando que os benefícios, em termos de poupança, foram só para alguns. s poupanças dos portugueses em geral cresceram neste último ano por vários motivos que essencialmente passaram por mais rendimentos e menores custos. Em geral, repito e com fortes e significativas exceções das classes mais desfavorecidas. Paulo Pereira, também economista, afirma ao JM, que as poupanças dos portugueses em geral, cresceram neste último ano. E explica que são vários os motivos, os quais, essencialmente, passaram por mais rendimentos e menores custos. “Em geral, repito, e com fortes e significativas exceções das classes mais desfavorecidas”. Sublinha aquele que já foi presidente da Ordem dos Economistas na Madeira. Ao Jornal, Paulo Pereira adianta que “grande parte dos milhares de milhões de Euros em linhas de crédito a empresas com garantia de Estado por causa da covid foi cedida em excesso pelos Bancos a muitas empresas que não precisavam”. Realça que é o chamado efeito 'Cantillon’. Os primeiros beneficiários de dinheiro novo, como prossegue, “são principalmente as grandes empresas”. Essas ou mantiveram o dinheiro em depósitos ou devolveram dinheiro a sócios, que os depositaram. Depois, acrescenta ainda ao JM, “há o caso dos trabalhadores que mantiveram rendimentos (na totalidade ou por causa do Lay off) que beneficiaram de uma série de moratórias nos seus créditos e foram impedidos pelos governantes de ter uma vida de liberdade de consumo (férias, vida social, desporto, etc), pelo que se apanharam numa situação de receber e não gastar, o que leva os depósitos a aumentarem”. Mas há, obviamente, os outros. Os que foram impedidos de trabalhar e não foram compensados em rendimentos. “Quem já vivia uma situação frágil e não tinha acesso a créditos (inquilinos, por exemplo), viram a sua situação agravar-se brutalmente”, destaca. Na opinião de Paulo Pereira, o que os confinamentos e as decisões políticas criaram foi mais “iniquidade e o reforço do número de dependentes do apoio do Estado. Estes, aliados ao dos que viram a sua situação líquida melhorar sem fazer qualquer esforço, explicam parte da popularidade gozada pelos governantes confinadores por hora”.

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